quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Volte-face

Um sorriso mordaz molda-me a expressão. É grande a satisfação que sinto, por sentir que a crise bate fundo! Insanidade mental?talvez...
Todas as crises trazem grandes oportunidades. Esta não é excepção. Aproxima-se o Natal, e a situação obriga    muitas famílias a transcenderem-se para conseguirem ter uma Consoada condigna. Este esforço traduz uma evidente reorganização das prioridades e dos valores vigentes...o que é de salutar!É quase impossível lembrar-me de um Natal em que as prendas não ocupassem o pedestal. Tal como disse uma escritora de um blog que sigo, as pessoas demoram-se nas lojas, fazendo sem pressa os percursos, avaliando e ponderando, deitando contas à vida e vendo por onde dá para passar a generosidade. A família assume verdadeiramente o protagonismo, como há largos tempos não se via! Desejos de saúde e de felicidade nunca foram tão sinceros, porque mais dinheiro ou prendas...bem, esses não são plausíveis nos dias de hoje.
Quero acreditar que as pessoas não pedem prendas porque também se aperceberam daquilo que têm à sua volta. Aqueles que estão connosco são as verdadeiras prendas e, mais do que qualquer outra coisa, são eles quem precisamos para que a nossa vida siga a navegar por águas mais tranquilas. Mais do que nunca, a união faz a força e a prova está no voluntariado, capacidade que muito admiro, e que mantém muita gente viva. Sinal que há motivos para ter esperança e acreditar num futuro mais risonho.
Esta crise tem o condão de invadir o espaço diário e pessoal de cada um. Talvez, por isso, seja esta a oportunidade para analisarmos bem o que somos, o que fazemos, como vivemos e para onde queremos ir. Porque este cantinho europeu onde estamos, não está seguramente num porto de abrigo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Fotografia

A palavra significa "escrita com luz". Mas é muito mais do que isso. É a arte de conjugar tudo num momento. Combina-se o brilho, a luz, o vento, as cores para obter um único momento, guardado para a eternidade. Mas eternidade é a distância que separa as velhinhas máquinas que davam um banho de magnésio das mais recentes, digitais com imagem tratada no segundo, na máquina ou no quadrado a que carinhosamente denominamos de computador. Por isto,dizer que a fotografia é a arte de conjugar tudo num momento não é muito fidedigno...já o foi!Adiante...
É com alguma mágoa que vejo alguma falta de responsabilidade na fotografia. Caiu em estado de graça, tal como a música. Hoje em dia, toda a gente tira fotografias...a tudo!Até tiram 20 fotografias seguidas ao gato que está a dormir, se for preciso.
Da minha experiência (do pequeno círculo de pessoas com quem me dou), ninguém tem a "preocupação"/consciência da responsabilidade de colocar mais uma imagem no Mundo. E custa-me ver que não há esta consciência, porque vivemos numa sociedade sôfrega e atulhada de imagens, filmes, música, publicidade...contribuir para esta avalanche não me parece que ajude à apreciação artística da fotografia.
A fotografia deve ser mantida na sua essência por todos...a cuidadosa escolha do momento do clique, a criteriosa manipulação do ambiente e a desejada inspiração do artista.
Porque, tal como a música, tem a capacidade de nos transportar para outro lugar, e despertar, no nosso imaginário, sons distantes e exóticos, ou próximos e comuns. Porque tem a capacidade de nos arrancar um sorriso, quando nos lembramos do tal momento.
Porque nos faz sentir.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Música

Abrindo um conjunto de tópicos que vistam abordar algumas das artes, começo com a arte do som, harmonia e melodia.
Seria muito difícil concebermos um mundo sem música hoje em dia. É algo que nos afasta dos ruídos exteriores que nos chegam do universo citadino,e também emudece os gritos da consciência e do interior que nos atormentam de vez em quando, ou mesmo dia e noite sem cessar.
Marca os passos do caminho, e demarca empatias. Cria laços e afasta os percursos.
Daí ser algo que, ouvindo, não se explica, mas sente-se.
E a energia passa para os outros, numa partilha invisível de sentimentos e emoções que junta pessoas que antes ninguém diria poderem estar lado a lado.
Como um pianista que toca num concerto. Suavemente, ele prime as teclas do piano, enquanto, de olhos fechados, a cabeça esvoaça no meio do nada, navegando ao som da doce melodia que vai entoando. De repente, a cara franze-se, e o corpo desloca-se em frente ao piano acompanhando as mãos frenéticas, que martelam rápida e duramente as teclas!E acaba, com estrondo! Triunfante, levanta-se do banco com um sorriso tímido, afasta o cabelo da testa, dirige-se à plateia e curva-se, numa vénia respeitosa para quem acabou de presenciar um testemunho notável de emoção veiculada por um instrumento completo, capaz de dar corpo e alma à música.
Ou um guitarrista num solo. Com os holofotes a destacá-lo, ele debruça-se sobre a guitarra e aumenta a relação de intimidade entre os dois. Os dedos deslizam ora gentilmente ora com força, num bend inesperado. Um solo de blues...em que um homem revela toda a sua melancolia pelo choro das cordas, intercalado por uma voz rouca e o gemido de um saxofone. Num bend, ele revela toda a sua emoção: ao fazer tremer a corda com os dedos, fecha os olhos, e inclina o corpo e a cabeça todos para trás num gesto brusco, numa tentativa de chegar mais alto para libertar mais e melhor.Mas, num momento, volta ao momento intimista, em que acaba com uma rápida passagem, elucidativa da diversidade que se pode expressar.
Por tudo isto, a música é uma arte que está na moda e nunca é demais valorizá-la, pois é um dos melhores veículos para viajar no tempo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um falso dilema

Hum...começo a escrever e a sorrir. Não sei bem sobre o que escreverei, mas delego essa tarefa nos meus dedos que teclam suavemente no portátil.
Sorrio porque olho para trás e vejo que sempre fui assim, um corpo estranho no meio de uma sociedade entorpecida e embriagada nos padrões que idealiza, persegue e venera.
Desde pequeno, desde que me conheço que sou alguém que não encaixa em sítio algum.
E faço muito pouco para que essa situação se inverta. No fundo, não sinto essa necessidade.
Observo, vejo e fico a matutar. Há uma dicotomia muito interessante no mundo de hoje.Por um lado, existe a escravidão que a sociedade induz, estimula e empurra para padrões de imagem, estética, orientação política e estilo de vida que são "referências de bem". Por outro lado, está em voga a tendência para a afirmação da personalidade, da individualidade, e da liberdade de expressão ( esta última muito condicionada nos tempos que correm...). Um prato da balança tem o rebanho todo junto, no outro prato estão todos dispersos. Qual é mais funcional? Para mim, é um dilema cuja solução passa por um equilíbrio muito temporário e instável.
E vocês? Partilhem :)

sábado, 14 de maio de 2011

À beira da janela

É para mim um orgulho quando visito este cantinho e leio aquilo que já produzi e deixei exposto.
Já não escrevo tão assiduamente quanto outrora, para não me repetir. Sinto que sou o mesmo pensador de sempre, mas mais equilibrado. A direcção do vento mantém-se, o sabor é mais doce e suave.
Imerso no meu processo evolutivo, tenho pensado e reflectido menos. Também tenho tido menos tempo para tal. Chegou a altura de procurar algo que dê para começar a ganhar experiência séria no mercado de trabalho. Porque o futuro está aí à porta.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Gota numa folha em branco

Hoje, sinto-me perdido.
Por entre as várias emoções que me assolam, encostado a frestas dissimuladas donde emanam palavras soltas, preso a laços invisíveis e desprovido de qualquer rumo.
Aquilo que digo e que escrevo é o que me mantém vivo...as palavras vêm, doces e ternas, ao encontro de quem as trata com carinho, como se de um reencontro de velhos amigos se tratasse.
Tenho na escrita um refúgio, um espaço, um Mundo!
Se vivesse há 500 anos, talvez nadasse com apenas um braço para salvar um manuscrito...Hoje não sei para onde nadar. Nem sei se é líquido, fluido ou matéria. Irreal ou surreal? Espero que a resposta chegue amanhã de manhã, mas sem nevoeiro.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Não diria melhor...longe vão os tempos!

ELOGIO AO AMOR - Miguel Esteves Cardoso in Expresso ( há alguns anos atrás)

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

 

 

domingo, 23 de janeiro de 2011

Suspiro...

É para mim decepcionante ver que consigo adivinhar o decurso das situações. Não gosto. Gosto de ser surpreendido, testado e atestado.Sobretudo quando pode mudar do mau para o bom. E ainda mais nas peripécias que se repetem de forma contínua e crónica desde tempos intemporais. Mas não...Bolas pá! É assim tão difícil criar alguma variação de resultados na mesma experiência? Não há cientista que resista! E eu estou um pouco farto de analisar o mesmo, faz com que vá fechando os olhos e o sono se apodere da minha pessoa.