sábado, 9 de abril de 2016

Suíça, seis meses depois e quase ao virar dos 25

Praticamente seis meses passaram desde que emigrei do cantinho lusitano. Não sendo a primeira experiência fora do país, é, sem dúvida, a mais longa. É possível considerar suficientemente longa para ter provocado mudanças profundas e significativas na personalidade, rotinas e objectivos de vida.
É inquestionável o poder de uma mudança tão radical. De repente, sentimos que os nossos horizontes são desbravados como se tivéssemos uma lâmina de diamante. Com um só golpe, sem esforço. Esse aumento de possibilidades deixa-nos um pouco atordoados inicialmente, como aqueles dias em que ainda estamos na cama e alguém abre os estores, permitindo a entrada da luz solar matinal. Esse raio de luz encandeia num primeiro momento, mas permite a constatação da beleza natural à distância de um vidro.
A mudança para um país cujo paradigma principal é a genuína e autêntica qualidade de vida, assim como o respeito pela pessoa, enquanto trabalhador e cidadão, acarreta certas benesses. A cultura do tempo livre ao fim-de-semana como algo imprescindível é contrastante com a cultura da exploração do empregado que prolifera em Portugal. A oferta que existe e a divulgação da mesma ajuda a atenuar um fim-de-semana enfadonho, se é que isso é possível. Por ser uma ilha no meio da Europa, é muito fácil deslocar-se até outros países fronteiriços, como França, Itália, Alemanha ou Áustria, opções inegavelmente interessantes para um fim-de-semana durante todo o ano, quer pela oferta, história, proximidade de acessos e baixo custo, em comparação com a Suíça.
Nem tudo é um mar de rosas, obviamente. Há uma diversidade de impostos a pagar que não lembra a ninguém, como o imposto para a Igreja e o imposto para os media (rádio e televisão). Por outro lado, são impostos que pagamos também em território luso, ainda que estejam disfarçados no meio de outras contribuições municipais. O valor das rendas é muito alto, mas a qualidade das casas está de acordo com a exorbitância exigida. No entanto, com um bom planeamento e organização financeiros, tudo é possível e nem é difícil.
Em relação aos locais, mantenho o que disse anteriormente. São pessoas mais distantes do que os portugueses, não existe a cultura de rua como nos países latinos, e acabamos por sentir falta disso, de uma forma ou de outra. Contudo, todas as pessoas são extremamente cordiais, sendo a boa educação algo transversal, havendo pontualmente uma ovelha negra aqui ou ali. Como em todos os países.
Uma última nota, porventura a mais importante.
Aqui sinto que cumpro os dois critérios que tendem a modelar a minha vida e as escolhas associadas.
O primeiro critério prende-se com a extrapolação da perspectiva sobre a minha vida, ou seja, tento perceber se, a partir de um ponto de vista externo, estaria contente com o caminho tomado, sobretudo se isto fosse uma história/um livro e eu fosse o leitor. Em suma, se gosto muito ou não da história que eu próprio escrevo todos os dias...a minha história. O segundo critério relaciona-se com a melhoria da qualidade dessa história, numa perspectiva emocional, ainda que mantendo a segurança que me permita não abdicar do primeiro critério. Em suma, será que neste momento reúno as condições para poder partir atrás daquilo que sinto, de quem gosto, de um momento para o outro e não ficar limitado por circunstâncias ou vicissitudes banais? Este sim...será o sal da vida e o salto qualitativo da minha história, numa retrospectiva futura, penso eu de que...

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